Apesar da falta de servidores, Ipea é reconhecido internacionalmente
Pesquisa divulgada pela universidade americana da Pensilvânia classificou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) como primeiro no ranking de think tanks governamentais latino-americanos em 2019. O estudo tem como objetivo identificar os institutos de pesquisas com grau de excelência em estudos aplicados na área de políticas públicas para a sociedade civil e governos.
O levantamento foi realizado pelo Programa Think Tanks e Sociedade Civis (TTCSP) do Instituto Lauder da Universidade da Pensilvânia. A análise é embasada no Indicador Global Think Tank anual, que classifica os principais institutos de pesquisas do mundo em uma variedade de categorias. O estudo foi realizado com a colaboração de mais de 1.796 instituições, além de especialistas da imprensa, meio acadêmico, setor público e privado e representantes de governo na comunidade internacional.
O resultado da pesquisa é um reconhecimento da agenda de trabalho desenvolvida pelos pesquisadores do Ipea, uma vez que a instituição é referência em pesquisa no cenário internacional.
Ainda de acordo com o relatório, o Ipea ocupa a sétima posição no ranking latino-americano na categoria que avalia os institutos de pesquisas com estudos realizados em áreas diversas de análise. A primeira posição desta categoria é ocupada pelo instituto Fedesarrollo, na Colômbia. Ao todo, foram avaliadas 86 instituições de pesquisas analisadas na categoria. Já no ranking global de think tanks governamentais, o Ipea aparece classificado na 25º posição.
Desde 2006, o processo de classificação da pesquisa dos think tanks realizada pela universidade da Pensilvânia passa por aprimoramentos. Foi modificado o parâmetro de análise, que passou a dedicar atenção especial aos critérios metodológicos de pesquisas em Governança e Políticas Públicas. Entre eles, a transparência na metodologia de pesquisa, coleta e análise de dados qualitativos e quantitativos passou a ser requisito de maior foco na análise.
Leia o relatório na íntegra (em inglês)
Falta de servidores
Apesar do reconhecimento internacional, o Ipea vive atualmente um verdadeiro apagão de servidores públicos, tanto em sua área finalística (Técnicos de Planejamento e Pesquisa), como principalmente em suas áreas administrativas (informática, recursos humanos, biblioteca, livraria, orçamento, assessoria de comunicação, gestão interna etc).
O órgão tem atualmente 348 servidores e 647 cargos vagos, um déficit de 65%. O último concurso foi realizado há 12 anos. Naquela ocasião, o concurso de 2008 elevou o número de servidores de 547 para 632, mas desde 2014 a situação vem se deteriorando e já está pior que a identificada antes daquele concurso. Outro problema é o envelhecimento: a média de idade é de 52 anos e 23% dos servidores já recebem Abono de Permanência, isto é, já têm o direito reconhecido de se aposentarem.
O levantamento é de Lucas Benevides, servidor do Ipea e diretor da Associação dos Funcionários do Ipea (Afipea). “Por mais que saibamos que dificilmente será recomposta integralmente a força de trabalho de outrora, o número está muito discrepante e os servidores sentem a falta de pessoal em áreas chaves para o bom funcionamento do órgão. Para evitar a morte do órgão por inanição, é essencial recompor a força de trabalho por concurso público”, opina.
O servidor defende que contratações de bolsistas ou de pessoal terceirizado não é o ideal para resolver o problema. “São necessários servidores ativos permanentes para planejar, preparar, efetivar, fiscalizar e gerir os contratos e demais atividades cotidianas do IPEA. A utilização de bolsas de pesquisa não supre as necessidades permanentes do órgão, haja vista que se trata de um vínculo temporário, de alta rotatividade e baixa especialização técnica, que ademais carece de coordenação por parte de servidores concursados”, argumenta.