Nota Pública – Manifestações do dia 14 de junho

Nota Pública – Manifestações do dia 14 de junho

Em reunião realizada em 04 de junho de 2019, seguindo orientação emanada pelo FONACATE (Fórum Nacional Permanente das Carreiras Típicas de Estado, entidade representativa da qual a Afipea faz parte), de apoio à mobilização prevista para 14 de junho de 2019, a gestão Afipea por Direitos e Democracia decidiu emitir esta nota pública de apoio aos inúmeros movimentos sociais e políticos, bem como aos diversos coletivos de trabalhadores e trabalhadoras de todo o Brasil, que realizarão paralisação e protestos pacíficos nesse dia de luta nacional em prol de um desenvolvimento nacional soberano, solidário, sustentável, socialmente justo e democrático.

O Brasil, país historicamente marcado por severas heterogeneidades e imensas desigualdades, ademais padecendo de processos lentos e não lineares de republicanização e de democratização em suas instituições e relações políticas, sociais e até mesmo econômicas, requer que trabalhadores de organizações já cinquentenárias e qualificadas como o IPEA exercitem os valores da República e da Democracia, não apenas como valores positivos em si mesmos, ou porque estejam inscritos como princípios e diretrizes na Constituição Federal vigente e leis ordinárias, mas, sobretudo, porque tais valores podem e devem se converter em verdadeiros métodos de participação política e de gestão governamental, visando as tão almejadas governabilidade e governança no trato da coisa pública.

No que se refere especificamente aos temas da Administração Pública Federal, reforçou-se com o atual governo a inflexão na política de gestão de pessoas no serviço público federal brasileiro. As tendências recentes apontam para a suspensão de novos concursos públicos e a revisão (visando contenção fiscal) dos acordos coletivos em torno das remunerações e reajustes salariais. Ao mesmo tempo, verifica-se certa retomada de contratações atípicas (por ex., via organismos internacionais) e contratações à margem do RJU (por ex., via terceirizações). Por fim, já estão aprovadas ou em fase avançada de tramitação propostas legislativas visando a: i) terceirização irrestrita no serviço público, inclusive das atividades finalísticas; ii) flexibilização (com o objetivo de facilitar e acelerar demissões) da estabilidade dos vínculos empregatícios no serviço público; iii) mudanças paramétricas nas condições de aposentadoria dos servidores públicos, em direção à ampliação do tempo e percentuais de contribuição e idades mínimas, além de rebaixamento dos valores finais e indexação dos benefícios. Em suma, a PEC 006/2019 exige contribuições maiores e por mais tempo, não prevê regras de transição justas, reduz valores de aposentadorias e enfraquece a proteção à família do servidor público.

Em linhas gerais, a reforma dificulta o acesso à aposentadoria e demais benefícios e enfraquece mecanismos de proteção social para o conjunto da população em idade ativa. Novamente, os servidores públicos são apontados como responsáveis pela crise fiscal que, há anos, acomete o país e se veem alvos de uma campanha falaciosa por parte do governo. Sob o pretexto de conter privilégios, a PEC 006/2019 fere direitos, frustra expectativas e estabelece um cenário de completa insegurança jurídica.

O discurso desconsidera que em 2018, no governo federal, o gasto com pessoal ativo e aposentados em percentual do PIB foi menor do que o registrado em 2002, 4,3% contra 4,8%. Também ignora as reformas pelas quais o serviço público passou nas últimas décadas que, entre outros pontos, igualaram o teto das aposentadorias ao INSS para os servidores que ingressaram a partir da implantação do Regime de Previdência Complementar.

Tudo somado, trata-se, evidentemente, de um projeto que não apenas piorará enormemente as condições de trabalho, remuneração, proteção laboral, social e sindical, associação e representação coletiva e acesso a uma justiça imparcial para os trabalhadores do setor público federal (e por extensão, dos demais entes federativos também), como fará piorar, muito provavelmente, a tempestividade, a qualidade e a acuidade dos serviços públicos e tarefas administrativas necessárias ao bom funcionamento do Estado brasileiro.

Desta maneira, urge a montagem negociada de uma política de valorização e gestão de recursos humanos no conjunto do setor público no Brasil – que leve em consideração de modo articulado e orgânico as etapas de seleção, capacitação, alocação, remuneração, progressão e aposentação – esteja ancorada e inspirada pelos valores e princípios da República, da Democracia e do desenvolvimento nacional.

Tais questões – e certamente outras mais – são cruciais para aprimorar o debate contemporâneo sobre o problema e seu enfrentamento por parte deste e dos próximos governos. As eventuais respostas dependem de uma compreensão adequada acerca do papel do Estado como promotor e provedor do desenvolvimento e têm na questão da adequação da ocupação pública federal às políticas públicas vigentes um de seus pilares fundamentais.

Diretoria da Afipea – Afipea por Direitos e Democracia